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terça-feira, maio 12, 2009

Insegurança

São 21:00, cheguei a casa há pouco mais de uma hora, depois de um dia de trabalho que começou às 8:00. Aqueço qualquer coisa rapidamente no microondas para jantar, pois os rendimentos auferidos no final do mês não permitem fazer muitas refeições fora de casa. No entretanto, assisto ao telejornal da SIC que anuncia um debate sobre a “Violência na Bela Vista”.

Começa o debate com uma reportagem sobre o “outro lado da lei” (e eu que achava que havia um, e apenas um só, lado da lei, igual para todos). Do anonimato para os 5min de fama, vejo saírem jovens que à pergunta:

- Gostavas de trabalhar?

Respondem sem hesitar:

- Claro, gostava de jogar futebol!

Está tudo dito! E não estou a dizer que Figo, Ronaldo ou Zidane não trabalhem, mas é óbvio que o sujeito inquirido não quer trabalhar, quer, na melhor das hipóteses, um emprego, isto é, rendimentos fáceis, de preferência avultados.

O mesmo jovem fala de carjacking, arrombamentos de ATM e assaltos à mão-armada, com a mesma naturalidade com que eu comento os ensaios realizados durante a manhã. Contas feitas, há que “fazer pela vida” - dixit.

Ainda durante a reportagem, é entrevistada uma moradora do famigerado bairro, que, com bonomia diz:

- Os jovens não têm que fazer!

Pois bem, aproveito este espaço para publicitar um quintal com alguns metros quadrados e boa terra para ser cultivado. Aceitam-se propostas!


Já no estúdio, Clara de Sousa e os seus interlocutores – Marinho Pinto (bastonário da ordem dos advogados) e um qualquer general (perdoe-me, mas a idade já vai fazendo mossa) esgrimem argumentos sobre a insegurança.

Marinho Pinto, acerca da inimputabilidade, defende que se mantenha o actual regime, ou seja, qualquer cidadão menor de 16 anos pode fazer o que muito bem lhe der na cabeça, pois ainda não tem a consciência do que é o bem e o mal formada (sim, falamos da mesma consciência que o leva a agir sem algo temer, por saber que nada lhe acontecerá). O Sr. Dr. Marinho fala assim porque ainda não foi interpelado por um meliante de 14 anos apontando-lhe uma ponta-e-mola enquanto lhe exige as chaves do bólide, senão outra seria a argumentação.

Depois falou-se de sonhos, daqueles que os jovens do BBV não têm. Daqueles cuja ausência os impele a causar a combustão de automóveis, motociclos...

À cause deste comportamento inimputável, há muita gente que passou a ter pesadelos, ou simplesmente perdeu o sono, mas o melhor do Mundo são as crianças e o sonho (sempre que um homem sonha...).

O sonho, ou melhor, a sua inexistência, conduzem à revolta!

Revolta porque não jogam à bola, porque não lhes dão dinheiro para estar na santa paz do senhor a fazer coisa nenhuma, porque matam os amigos que são apanhados em flagrante delito a cometer crimes...


REVOLTADOS?! E que tal eu e os demais contribuintes deste país nos revoltarmos contra esta pantuminice?! E se num acesso de loucura (devidamente enquadrada e conducente a uma situação de inimputabilidade) desatássemos a atropelar todos os que nos vêm pedir uma moeda para o café, uns trocos para o almoço, ou o relógio para ver as horas...??!

BASTA, digo eu! Estou cansada de ser gozada por marginais. De me levantar diariamente antes do Sol, de ver todos os meses um terço od meu vencimento desaparecer e ir parar à conta dos “coitados” da BV. Basta de culpabilizar as forças policiais (esta é para o bastonário). Se os magistrados deste país não andassem a brincar aos psicólogos, certamente haveria menos marginais nas nossas ruas. Basta de peneiras, o Sol já nos torra a derme!


E para rematar, com chave d'ouro, diz Marinho:

- O maior problema é a pobreza!

Quererá o bastonário legislar e conduzir a, mais uma, revisão do código penal que enquadre a pobreza como razão de inimputabilidade criminal?!

GIME ME A BREAK, just give me a break!


BBV - Bairro da Bela Vista

14 Comments:

At 13 de maio de 2009 às 14:55, Anonymous Anónimo said...

OS BANDOS DOMINAM NOS BAIRROS SOCIAIS

Os partidos de esquerda desculpam sistematicamente a criminalidade com o a pobreza e o desemprego. Parece terem receio de uma atitude mais enérgica na luta contra o crime. Será que ficaram traumatizados desde os tempos do fascismo? Esta postura está a desorientar o seu próprio eleitorado natural: os mais pobres que são também os mais desprotegidos face à criminalidade. Assim, os partidos de esquerda têm muita responsabilidade relativamente ao crescimento da extrema direita que tem um discurso bem mais sensato sobre o combate crime. Barack Obama – que se poderá considerar de esquerda – prometeu ser implacável no combate ao crime e defender ao mesmo tempo os mais desfavorecidos. Não me parece que isso seja incompatível.

Todos os dias vemos fechar Empresas jogando muita gente no desemprego e na pobreza. Frequentemente, ficam muitos meses de salários por pagar, levando essas pessoas a uma situação de desespero. Se fosse esse o motivo dos desacatos que se têm visto nos bairros sociais, então eles aconteceriam preferencialmente nas manifestações junto aos antigos locais de trabalho, onde se aglomeram muitas pessoas na mesma situação.
Não! o que se viu no Bairro da Bela Vista foi a homenagem a um criminoso abatido em flagrante pela polícia, numa atitude de desafio à própria polícia como que para testar a sua capacidade de reacção e para uma demonstração de força no bairro.

Há 50 anos a pobreza em Portugal não era menor que a de hoje e a criminalidade violenta era praticamente inexistente. Se mais pobreza implicasse mais criminalidade, então não teria sido assim. As estatísticas nem reflectem a nossa realidade porque muitas vítimas já nem se queixam porque sabem que os criminosos são rapidamente postos em liberdade, mesmo quando são capturados e depois ficam sujeitos a represálias. Mela mesma razão, vítimas e testemunhas escondem a face quando são entrevistadas pela televisão.

Já há algum tempo um Mayor de Nova Iorque decidiu que não se deveria menosprezar a pequena criminalidade nem os pequenos delitos, porque a sensação de impunidade se instala nos jovens delinquentes, estes vão facilmente progredindo para infracções cada vez mais graves até que a situação se torna incontrolável. Implementou então a célebre "Tolerância Zero" que, como se sabe, deu óptimos resultados, reduzindo num só ano a criminalidade em Nova Iorque em cerca de metade.

A actual política portuguesa de manter na rua os criminosos, mesmo depois de várias reincidências, faz (como dizia o Mayor ) crescer a sensação de impunidade: o criminoso continua com as suas actividades criminais, vai subindo o nível dos seus delitos e serve de exemplo para que outros delinquentes mais jovens sigam o mesmo caminho.

Mas existem muitas pessoas trabalhadoras e humildes nos bairros sociais que não levantam problemas e que só desejam que os deixem viver em paz, o que não acontece, porque estão reféns dos bandos de criminosos que dominam nesses bairros. Não se pode contar com essas pessoas para testemunharem qualquer acto criminoso a que assistam porque têm medo, medo de represálias porque não se sentem convenientemente protegidas pela polícia que também não pode estar sempre presente. Lembra as favelas brasileiras...só que no Brasil polícia e militares juntam esforços para combater o domínio dos bandos nas favelas e tem havido baixas parte a parte mas a polícia começa a chegar onde antes não se aventurava. Por cá, enquanto o crime cresce e toma posições de domínio, a polícia, apesar de vontade, nada pode fazer porque lhe falta a autoridade. Entretanto, Governo, Partidos, Bispos e outras organizações não compreendem o que se está a passar e fazem conjecturas absurdas sobre o motivo dos desacatos que é por demais evidente. Será que temos que cair no fundo?

Ah! esquecia-me de uma coisa: espero que os indivíduos filmados a fazer "cavalinho" com as motos sejam punidos pelo menos por CONDUÇÃO PERIGOSA. É incorrecto multar o pacato cidadão apenas porque ultrapassou 50 Km/hora e deixar impunes estes exemplos exibicionistas...

Zé da Burra o Alentejano

 
At 13 de maio de 2009 às 16:06, Anonymous Zé Pinho said...

Pois é o País que temos...
Já não faltam muitos dias para ver os coitados dos delinquentes entrevistados pela Fátima Lopes ou Júlia Pinheiro; e os Bispos a proporem ao Papa a sua beatificação !

 
At 13 de maio de 2009 às 17:08, Anonymous Anónimo said...

Os partidos de esquerda desculpam sistematicamente o crime a que chamo de "CRIME RANHOSO" com a desculpa da pobreza e do desemprego e com esta posição estão a desorientar o seu próprio eleitorado natural: os mais pobres que são também os mais desprotegidos face a qualquer criminalidade. Os partidos de esquerda têm por isso muita responsabilidade relativamente ao crescimento da extrema direita que tem um discurso bem mais sensato sobre o combate crime (sem especificar).

Mas eu não me esqueço do outro tipo de crime: O "CRIME DE COLARINHO BRANCO", exercido por pessoas muito influentes desta sociedade que surripiam milhões sem dar um tiro nem ter que fugir à polícia.

Pois o crime tem que ser todo ele combatido com firmeza: quer o "CRIME RANHOSO", quer o "CRIME DE COLARINHO BRANCO". Mas constato que,infelizmente, este país está a afundar-se em ambos para mal dos portugueses.

Zé da Burra o Alentejano (outra vez)

 
At 14 de maio de 2009 às 09:56, Blogger ACP said...

Infelizmente assistimos à vulgarização dos crimes "menores", dos crimes de corrupção e de toda a criminalidade em geral!
Dir-se-ía que os poucos cidadão que não cometem crimes entraram em depressão, deixaram de acreditar e desejam apenas que não os incomodem muito (ou mesmo que surja a oportunidade de prevaricar um pouco).
Em suma, está instalada a crise de valores!

Obrigada a ambos pelo vosso contributo :)

Fico curiosa qto à identidade da burra do Zé ;)

 
At 14 de maio de 2009 às 15:25, Blogger kimikkal said...

Curiosa a sintonia de temas, embora nem sempre de acordo e com pontos de vista diferentes, abordámos os dois este tema.

Vai ao 7M e diz-me o que achas, ok?

bjs

 
At 14 de maio de 2009 às 22:16, Blogger ACP said...

+ 1 excelente texto Kimi :)

Bjinhos

 
At 15 de maio de 2009 às 23:06, Blogger Marco said...

Curiosamente sempre que ocorrem problemas relacionados com falta de segurança, as únicas discussões que se fazem em torno disso focam-se nas possíveis causas sociais e psicológicas que levam a essa consequência. Como se tentar determinar uma causa que pode até nem existir (eu sei que custa a acreditar, mas existem pessoas que são más, simplesmente porque sim), e mesmo que exista não tem no tempo presente solução, fosse melhor do que resolver o problema: as consequências actuais. Como pouca coisa está ao nosso alcance, alinho nessa de atropelar os chupistas de rua, pelo que amanhã vou ver se arranjo um "mata vacas" forte para soldar no meu carro.

 
At 16 de maio de 2009 às 15:52, Blogger ACP said...

LOL
Pelo menos ficas protegido e sp pode ser q ganhes uns pontos extra ;)

Bom fds Marco!

 
At 17 de maio de 2009 às 20:54, Blogger Pearl said...

Adorei o teu ponto de vista.Certissimo!

beijo grande

 
At 18 de maio de 2009 às 08:46, Blogger ACP said...

Obrigada! :)
Uma óptima semana para ti!

Bjinhos

 
At 22 de maio de 2009 às 14:09, Blogger Carla said...

depois do que disseste limito-me a assinar por baixo
beijo

 
At 24 de maio de 2009 às 22:18, Blogger ACP said...

:)
Obrigada linda! :)
Parece que há mta gente a pensar assim, mas continuamos reféns desta insegurança :(

 
At 3 de junho de 2009 às 21:03, Blogger Vasco said...

Se a distribuicao da riqueza fosse mais justa e as desigualdades menores se calhar havia menos criminalidade. Porque e que o crime aumenta em proporcao directa com as desigualdades e a mise'ria?

A cultura de sala'rios baixos e grandes desigualdades e' o motor da miseria, do crime, do salve-se quem puder.

Nem tudo o que parece e'...

 
At 5 de junho de 2009 às 11:45, Blogger ACP said...

Oh Vasquito essa da distribuição de riqueza n me convence, pelo - n no q a esta situação em particular diz respeito! Os indivíduos em questão praticam actos criminosos apenas e só pq querem, n p uma questão de necessidade!
Há quem peça boleia pq n gosta de caminhar 2 ou 3km e quem peça boleia pq tem longas distâncias a percorrer e n tem outros meios. Estes indivíduos pertencem ao 1.º grupo!

E sim, o crime aumenta nas alturas de crise, m n se confunda crime c vandalismo. Quem rouba p necessidade n apedreja patrulhas da polícia...
E essa da cultura de salários baixos é um pouco redutora! M nisso temos opiniões bem distintas, é inútil argumentar ctg :)

Acabo a dizer-te o q disseste:
"Nem td o q parece é..." ;)

 

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