Eu-génio
13 de Junho de 2005 ficará para a história como o dia em que foram levados desta vida duas importantes personalidades do séc. XX português. Já aqui prestei a minha homenagem a Álvaro Cunhal, é chegado o momento de o fazer ao poeta Eugénio de Andrade, um dos maiores vultos da cultura nacional e um dos maiores poetas contemporâneos de língua portuguesa.
Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, nasceu a 19 de Janeiro de 1923, na Póvoa de Atalaia, Fundão, região da Beira Baixa. Em 1932 fixou-se em Lisboa, com a mãe, que entretanto se separara do pai, e marcou o seu universo literário. Estudou no Liceu Passos Manuel e na Escola Técnica Machado de Castro. Por volta dos 14 anos escreveu os seus primeiros poemas e enviou alguns dos seus escritos a António Botto. "Narciso" foi o titulo do seu primeiro poema, publicado três anos mais tarde. A sua consagração aconteceu em 1948, com a publicação de "As Mãos e os Frutos". Bisneto de camponeses, Eugénio de Andrade passou por Coimbra e em 1950 fixou residência no Porto, na rua Duque de Palmela, 111, o endereço que dá nome a um poema do livro "Escrita da Terra" (1974).
Avesso a entrevistas e a multidões, Eugénio da Andrade viveu no Porto os últimos anos de vida, num andar paredes meias com a Fundação com o seu nome, rodeado de livros, discos e na companhia da sua gata.
Entre as dezenas de obras que publicou encontram-se, na poesia, "Os Amantes sem Dinheiro" (1950), "As Palavras Interditas" (1951), "Matéria Solar" (1980), "Rente ao dizer" (1992), "Ofício da Paciência" (1994), "O Sal da Língua" (1995) e "Os Lugares do Lume" (1998). Em prosa, publicou "Os Afluentes do Silêncio" (1968), "Rosto Precário" (1979) e "à Sombra da Memória" (1993), além das histórias infantis "História da Égua Branca" (1977) e "Aquela Nuvem e as Outras" (1986).
Com uma linguagem muito próxima aos jovens, a sua obra poética e em prosa foi já inúmeras vezes premiada, tendo sido galardoado com o Prémio Camões em 2001. A sua obra encontra-se traduzida para alemão, asturiano, basco, castelhano, catalão, galego, chinês, francês, italiano, inglês, jugoslavo e russo.
A obra poética que nos legou foi e será permanente fonte de inspiração para todos quantos prezam a língua portuguesa e nela encontram forma sempre renovada de expressão e reconhecimento da beleza do mundo e da vida. Muitos se habituaram a ir buscar as suas palavras para namorarem, para amarem, para descobrirem o lado solar da existência. Nesse aspecto, Eugénio foi alguém que celebrou a poesia em estado puro, que soube tirar partido das palavras, para falar do amor, da natureza e da importância de tirar o partido possível da vida plena. Por tudo isto, os portugueses e a nossa língua ficam a dever-lhe momentos inesquecíveis de beleza poética, constituíndo a sua obra uma inestimável referência estética.
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