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Mais um blog, apenas.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Zeca Afonso morreu há 19 anos

Faz hoje 19 anos que morreu uma das figuras mais míticas da luta contra o fascismo: Zeca Afonso. Cantor e compositor, conciliou a música popular portuguesa e os temas tradicionais com a palavra de protesto. A voz da revolução de Abril acabaria por falecer em 1987, vítima de uma doença incurável.

José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos nasceu em Aveiro, a 2 de Agosto de 1929, filho de um magistrado e de uma professora primária. A infância repartiu-se entre Aveiro, Angola, Moçambique, Belmonte e Coimbra, devido às sucessivas deslocações profissionais do pai. A paixão pela música nasceu cedo, nos tempos de estudante, onde já se destacava como cantor de fados.

O ano de 1958 foi um dos marcos na sua história, com a gravação do primeiro disco "Baladas de Coimbra". Em simultâneo acompanhava o movimento que pretendia pôr Humberto Delgado na Presidência.

Entre 1967 e 1970, Zeca Afonso encabeçou uma intervenção política e musical sem precedentes. Converteu-se num símbolo da resistência ao regime de Salazar/Caetano, acabando por ser diversas vezes preso pela PIDE.

Em parceria com José Mário Branco, edita em 1971 o disco "Cantigas do Maio". É deste álbum que sai o tema "Grândola Vila Morena", que se tornaria um símbolo da revolução de Abril, como contra-senha.

Mesmo depois do 25 de Abril o seu carácter lutador não esmoreceu e, de cantor da resistência, passou a "cantor e actor da revolução", cantando sobre a reforma agrária e a descolonização.

O carácter interventivo das composições de Zeca Afonso atravessou toda a sua obra, desde Coimbra até ao final dos seus dias.

A esclerose lateral amiotrófica, doença que lhe foi diagnosticada em 1982, acabou por lhe tirar a vida aos 58 anos.

Recordo-me do concerto que assisti, no teatro aveirense, o Zeca já doente, cansava-se com facilidade, mas a voz permanecia inalterada, doce como o mel e suave como veludo!

Venham mais 5 Zecas!

Zeca Afonso

O ovo...

Carton

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Match Point

How far would you go?
Love. Lust.

lust
Do you feel guilty?

"One word frees us all weight and pain in life:
that word is love."
Sophocles
Nola vs. Chloe
Would you risk everything?
All. Nothing.

accept nola
deny chloe

There are no little secrets.
Truth. Deception.

How dreadful knowledge of truth can be
when there's no help in the truth.
Poster
Resolve. Tell.

Good news.
A crime.

There is a point of no return.
MATCH POINT

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Screensaver

É só carregar e segurar o rato sobre boneco, podem apertar com ele e conduzir o movimento como preferirem... mas também é bom vê-lo seguir em queda livre!

Experimentem em:

domingo, fevereiro 19, 2006

O fim de um dogma informático...

No início do mês, a propósito deste post no Estarreja efervescente, sugeri a instalação do sistema operativo baseado em UNIX, em detrimento da aquisição de um Apple.

Em boa hora o fiz, pois já não se pode dizer que só existem vírus para computadores cujo sistema operativo provem da Microsoft. A descoberta foi feita no decorrer da semana passada e podem saber mais aqui.


Uma boa semana!

sábado, fevereiro 18, 2006

Ainda se lembram?

Jacky & Ron

Jacky & Jill


Jacky



Hoje perdi a cabeça e acabei a comprar o DVD com o primeiro episódio desta série...


Serão sinais de velhice?!

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Guantanamo

Já todos ouvimos falar de Guantanamo, o campo de detenção norte-americano situado na baía de Cuba.

Infelizmente tb já todos ouvimos falar das atrocidades que lá se cometem...

Mas, finalmente, parece que alguma luz se vislumbra ao fundo do túnel. Uma equipa de cinco inspectores designados pela ONU recomendam, num relatório apresentado esta semana em Genebra, que a prisão seja imediatamente encerrada e que os cerca de 500 detidos sejam julgados, ou libertados.

Por seu turno, os senhores donos da moral e dos bons costumes, I mean, the american government, returquem que o relatório supra citado desacredita a ONU (a hipócrisia não para de me surpreender).

Guantanamo

Olhando bem para esta imagem, podemos ver como são humanos os guardas deste presídio, que tudo fazem para que os "terroristas" se sintam em casa e nem se esqueçam de orar a deus...

Ainda bem que nem toda a gente anda a dormir e a ONU teve coragem para levar a cabo este estudo.

Louvável também é a tomada de posição do Parlamento Europeu, sob a forma de resolução (ponto F).

A explicação...

Mapa Mundo

Sulphur Oxigenase Reductase

Estrutura proteica do SOR (Sulphur Oxigenase Reductase)


Esta foi uma semana importante para a ciência portuguesa.

As revistas Nature e Science publicaram artigos escritos por cientistas portugueses, mais concretamente por dois investigadores do Instituto de Tecnologia Química e Biológica - ITQB em Oeiras.

O primeiro foi sobre "Sal gasoso", isto é, sobre evaporação de líquidos iónicos.
Sempre se pensou que os sais não evaporavam, agora tudo parece indicar o contrário.

O segundo artigo, relacionado com a figura, fala de uma proteína fundamental para a vida de microrganismos que habitam em regiões vulcânicas inóspitas.

Parabéns aos investigadores e respectivas equipas!

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Os novos terroristas

Terrorista

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

AMOR

Cepheus
A boca,

onde o fogo
de um Verão
muito antigo
cintila,
a boca espera
(que pode uma boca
esperar
senão outra boca?)
espera o ardor
do vento
para ser ave,
e cantar.

Eugénio de Andrade


Aqui fica uma rosa, enviada pelo telescópio Spitzer

domingo, fevereiro 05, 2006

O atestado médico

Segue-se um texto, escrito por um professor de filosofia, que deve ser lido em ar de gozo, mas que na realidade espelha bem o ambiente psico-patético em que vivemos e traduz a alma de um povo que há muito tempo perdeu a noção do real.

Imagine o meu caro que é professor, que é dia de exame do 12.º ano e, vai ter de fazer uma vigilância. Continue a imaginar. O despertador avariou durante a noite. Ou fica preso no elevador. Ou o seu filho, já à porta do infantário, vomitou o quente, pastoso, húmido e fétido pequeno-almoço em cima da sua imaculada camisa. Teve, portanto, de faltar à vigilância. Tem falta. Ora esta coisa de um professor ficar com faltas injustificadas é complicada, por isso convém justificá-la. A questão agora é: como justificá-la? Passemos então à parte divertida.

A única justificação para o facto de ficar preso no elevador, do despertador avariar ou de não poder ir para uma sala do exame com a camisa vomitada, ababalhada e malcheirosa, é um atestado médico. Qualquer pessoa com um pouco de bom senso percebe que quem precisa aqui do atestado médico será o despertador ou o elevador. Mas não. Só uma doença poderá justificar a sua ausência na sala do exame. Vai ao médico. E, a partir deste momento, a situação deixa de ser divertida para passar a ser hilariante.

Chega-se ao médico com o ar mais saudável deste mundo. Enfim, com o sorriso de Jorge Gabriel misturado com o ar rosado do Gabriel Alves e a felicidade do padre Melícias. A partir deste momento mágico, gera-se um fenómeno que só pode ser explicado através de noções básicas de psicopatologia da vida quotidiana. Os mesmos que explicam uma hipnose colectiva em Felgueiras, o holocausto nazi ou o sucesso da TVI.

O professor sabe que não está doente. O médico sabe que ele não está doente. O presidente do executivo sabe que ele não está doente. O director regional sabe que ele não está doente. O Ministério da Educação sabe que ele não está doente. O próprio legislador, que manda a um professor que fica preso no elevador apresentar um atestado médico, também sabe que o professor não está doente. Ora, num país em que isto acontece, para além do despertador que não toca, do elevador parado e da camisa vomitada, é o próprio país que está doente. Um país assim, onde a mentira é legislada, só pode mesmo ser um país doente.

Vamos lá ver, a mentira em si não é patológica. Até pode ser racional, útil e eficaz em certas ocasiões. O que já será patológico é o desejo que temos de sermos enganados ou a capacidade para fingirmos que a mentira é verdade. Lá nesse aspecto somos um bom exemplo do que dizia Goebbels: "uma mentira várias vezes repetida transforma-se numa verdade". Já Aristóteles percebia uma coisa muito engraçada: quando vamos ao teatro, vamos com o desejo e uma predisposição para sermos enganados. Mas isso é normal. Sabemos bem, depois de termos chorado baba e ranho a ver o "ET", que este é um boneco e que temos de poupar a baba e o ranho para outras ocasiões. O problema é que em Portugal a ficção se confunde com a realidade. Portugal é ele próprio uma produção fictícia, provavelmente mesmo desde D. Afonso Henriques, que Deus me perdoe. Em Portugal é-se penalizado por falar verdade, mesmo que seja por boas razões, o que significa que em Portugal não há boas razões para falar verdade.

Se eu, num ambiente formal, disser a uma pessoa que tem uma nódoa na camisa, ela irá levar a mal. Fica ofendida. Se eu digo isso é para a ajudar,para que possa disfarçar a nódoa e não fazer má figura. Mas ela fica zangada comigo só porque eu vi a nódoa, sabe que eu sei que tem a nódoa e porque assumi perante ela que sei que tem a nódoa e que sei que ela sabe que eu sei. Nós, portugueses, adoramos viver enganados, iludidos e achamos normal que assim seja. Por exemplo, lemos revistas sociais e ficamos derretidos (não falo do cérebro, mas de um plano emocional) ao vermos casais felicíssimos e com vidas de sonho. Pronto, sabemos que aquilo é tudo mentira, que muitos deles divorciam-se ao fim de três meses e que outros vivem um alcoolismo disfarçado. Mas adoramos fingir que aquilo é tudo verdade. Somos pobres, mas vivemos como os alemães e os franceses. Somos ignorantes e culturalmente miseráveis, mas somos doutores e engenheiros. Fazemos malabarismos e contorcionismos financeiros, mas vamos passar férias a Fortaleza. Fazemos estádios caríssimos para dois ou três jogos em 15 dias, temos auto-estradas modernas e europeias, mas para ver passar, a seu lado, entulho, lixo, mato por limpar, eucaliptos, floresta queimada, barracões com chapas de zinco, casas horríveis e fábricas desactivadas.

Portugal mente compulsivamente. Mente perante si próprio e mente perante o Mundo. Claro que não é um professor que falta à vigilância de um exame por ficar preso no elevador que precisa de um atestado médico. É Portugal que precisa, antes que comece a vomitar sobre si próprio.