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Mais um blog, apenas.

sábado, junho 18, 2005

Saudades de BCN I

BCN é a sigla simpática de Barcelona, talvez a mais cosmopolita cidade latina! Certamente das mais cosmopolitas do Mundo!
Nesta cidade nada parece ser feito ao acaso, ou então tudo fica bem, desde a arquitectute minimalista de Mies van der Rohe, até à arquitectura de cariz mais natural de Gaudí.

Mies van der Rohe

1929 - Pavilhão alemão na Feira Universal de Barcelona

O arquitecto alemão Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969) é considerado um dos principais nomes da arquitectura do século XX.
Professor da Bauhaus, foi um dos fundadores do que ficou conhecido por International style. Entre 1918 e 1925 participa do Novembergruppe, um grupo de arquitectos dedicados à propagação da arquitectura moderna.
Mies van der Rohe foi um arquitecto sempre voltado para o racionalismo espacial. A sua concepção dos espaços arquitectónicos envolve uma profunda depuração da forma, voltada sempre para as necessidades do lugar. Esse minimalismo expressa-se numa das suas frases mais famosas: Less is more!
Espaços abertos ou transparentes predominam nos seus projectos, usando materiais como o vidro e o metal.

terça-feira, junho 14, 2005

Em 3 dias 3 perdas

Tomei a liberdade de colocar aqui um comentário que recebi. Quem assim escreve, não é certamente tão... Z@r0lh0!


Em três dias três perdas.

Do Vasco Gonçalves, controverso mas firme nas convicções, a história se encarregará de colocá-lo no seu lugar.
Ontem, uma velhinha - politicamente reacionária - dizia-me já ter rezado por ele; deve a ele a pensão que recebe sem nunca ter descontado. E esta hein?

De Cunhal só os cegos não enchergam que ele é um dos pilares e alicerces da nossa democracia.
A Democracia como um belo monumento acenta em fundações rudes mas indispensáveis e fundamentais. Sem eles era o caos instalado...

Eugénio de Andrade sublimou nos seus versos a utopia e a elevação do espírito.


Portugal ficou mais pobre!

Eu-génio



13 de Junho de 2005 ficará para a história como o dia em que foram levados desta vida duas importantes personalidades do séc. XX português. Já aqui prestei a minha homenagem a Álvaro Cunhal, é chegado o momento de o fazer ao poeta Eugénio de Andrade, um dos maiores vultos da cultura nacional e um dos maiores poetas contemporâneos de língua portuguesa.


Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, nasceu a 19 de Janeiro de 1923, na Póvoa de Atalaia, Fundão, região da Beira Baixa. Em 1932 fixou-se em Lisboa, com a mãe, que entretanto se separara do pai, e marcou o seu universo literário. Estudou no Liceu Passos Manuel e na Escola Técnica Machado de Castro. Por volta dos 14 anos escreveu os seus primeiros poemas e enviou alguns dos seus escritos a António Botto. "Narciso" foi o titulo do seu primeiro poema, publicado três anos mais tarde. A sua consagração aconteceu em 1948, com a publicação de "As Mãos e os Frutos". Bisneto de camponeses, Eugénio de Andrade passou por Coimbra e em 1950 fixou residência no Porto, na rua Duque de Palmela, 111, o endereço que dá nome a um poema do livro "Escrita da Terra" (1974).
Avesso a entrevistas e a multidões, Eugénio da Andrade viveu no Porto os últimos anos de vida, num andar paredes meias com a Fundação com o seu nome, rodeado de livros, discos e na companhia da sua gata.


Entre as dezenas de obras que publicou encontram-se, na poesia, "Os Amantes sem Dinheiro" (1950), "As Palavras Interditas" (1951), "Matéria Solar" (1980), "Rente ao dizer" (1992), "Ofício da Paciência" (1994), "O Sal da Língua" (1995) e "Os Lugares do Lume" (1998). Em prosa, publicou "Os Afluentes do Silêncio" (1968), "Rosto Precário" (1979) e "à Sombra da Memória" (1993), além das histórias infantis "História da Égua Branca" (1977) e "Aquela Nuvem e as Outras" (1986).


Com uma linguagem muito próxima aos jovens, a sua obra poética e em prosa foi já inúmeras vezes premiada, tendo sido galardoado com o Prémio Camões em 2001. A sua obra encontra-se traduzida para alemão, asturiano, basco, castelhano, catalão, galego, chinês, francês, italiano, inglês, jugoslavo e russo.


A obra poética que nos legou foi e será permanente fonte de inspiração para todos quantos prezam a língua portuguesa e nela encontram forma sempre renovada de expressão e reconhecimento da beleza do mundo e da vida. Muitos se habituaram a ir buscar as suas palavras para namorarem, para amarem, para descobrirem o lado solar da existência. Nesse aspecto, Eugénio foi alguém que celebrou a poesia em estado puro, que soube tirar partido das palavras, para falar do amor, da natureza e da importância de tirar o partido possível da vida plena. Por tudo isto, os portugueses e a nossa língua ficam a dever-lhe momentos inesquecíveis de beleza poética, constituíndo a sua obra uma inestimável referência estética.

segunda-feira, junho 13, 2005

A morte saiu à rua

A morte saiu à rua num dia assim
Naquele lugar sem nome p’ra qualquer fim
Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue dum peito aberto sai


O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal
E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte o pintor morreu


Teu sangue, pintor, reclama outra morte igual
Só olho por olho e dente por dente vale
À lei assassina à morte que te matou
Teu corpo pertence à terra que te abraçou


Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas duma nação.

Manuel Tiago ou...

Álvaro Cunhal, 30 de Abril de 1974

Álvaro Barreirinhas Cunhal, nascido em Coimbra a 10 de Novembro de 1913, faleceu hoje, aos 91 anos. Morreu comunista, como resolveu sê-lo aos 17 anos.
A sua vida confunde-se com a do Partido Comunista Português - PCP - para o qual foi sempre uma referência (foi seu secretário-geral desde 1961), mesmo depois de ter cedido a sua cadeira de secretário-geral para Carlos Carvalhas, em Dezembro de 1992.


Filho de um advogado de província que chegou a governador civil da Guarda, fez a primária em casa, mas aos 11 anos, com a mudança da família para Lisboa, foi estudar para os liceus Pedro Nunes e Camões. Em 1931, com 17 anos, ingressou na Faculdade de Direito de Lisboa e, eleito representante dos estudantes de Lisboa no Senado Universitário, a sua primeira proposta foi acabar com a Mocidade Portuguesa.
No mesmo ano, filiou-se no PCP, entrou para a Liga dos Amigos da URSS e do Socorro Vermelho Internacional e depressa subiu os degraus da organização do partido. Em 1935, já era secretário-geral das Juventudes Comunistas e no ano seguinte entrava para o Comité Central, que o enviou a Espanha, onde viveu os primeiros meses da guerra civil.
Aos 24 anos, em 1937, sofre a primeira prisão, no Aljube e Peniche. Por questões políticas foi obrigado ao serviço militar (início de Dezembro de 1939) na Companhia Disciplinar de Penamacor, mas por motivos de saúde, a junta militar dispensou-o pouco depois. Em Maio de 1940 foi novamente preso.
Estudou na cela e foi à Faculdade, sob escolta policial, defender a sua tese (100 páginas, confiscadas depois pela PIDE) sobre a realidade social do aborto e a sua despenalização. Os examinadores Paulo Pita e Cunha, Cavaleiro Ferreira e Marcelo Caetano (que vieram a integrar o consulado de Salazar) deram-lhe 19 valores.
Até 1947 conseguiu pôr de pé o partido e restabelecer as relações com a Internacional Comunista (interrompidas em 1938). Preso de novo pela PIDE em 1949, é levado no ano seguinte a julgamento e condenado a quatro anos de prisão, seguidos de oito anos de degredo. Enquanto se encontra na prisão, escreve e desenha; esteve mais de oito anos isolado numa cela.
O líder histórico do PCP, como homem inteligente que era e por se tratar de um adversário temível pelo enorme poder de mobilização de massas que lhe era conhecido, foi incluído no primeiro Governo provisório, por decisão de António Spínola, ficando como o "ministro sem pasta".


Nos últimos anos esteve sempre afastado da cena política devido à sua avançada idade e ao seu estado de saúde. Em Novembro último, enviou uma nova mensagem ao XVII Congresso, saudada de pé pelos militantes.


Álvaro Cunhal teve uma filha única, Ana (a mãe foi a sua companheira de exílio Isaura Dias) embora a mulher dos seus últimos anos fosse Fernanda Barroso.


Cunhal foi uma referência para muitos jovens que há 40 anos tinham 18 e 20 anos e ouviam as [suas] histórias e lendas. Dele dirão que permaneceu fiel às suas convicções e ideais, mesmo depois da queda da União Soviética e do Muro de Berlim. Foi sem dúvida alguma uma das maiores figuras do comunismo internacional e um grande português que marcou a história do século XX pela tenacidade e coragem, com que, à sua maneira, defendeu e lutou incansavelmente pelos seus ideais e pelas suas profundas convicções políticas.
Morreu coerentemente, convicto de que esteve sempre certo. Não é verdade que tenha estado sempre certo, mas há uma coisa que ninguém pode negar, é que se bateu sempre pelos direitos dos mais humildes, dos mais pobres e dos trabalhadores.


Não nos esqueceremos jamais do famoso "Olhe que não, olhe que não" com que se atirou a Mário Soares durante um debate televisivo.


Álvaro Cunhal e Mário Soares - 1 de Maio de 1974

A democracia portuguesa ficou mais pobre.


Até amanhã camarada!

domingo, junho 12, 2005

Ainda se lembram da CEE?

À semelhança dos discos de vinil, também a CEE (Comunidade Económica Europeia) é algo que pertence ao passado e, como tal, trata-se de uma sigla desconhecida das camadas mais jovens!


Em 1977 Mário Soares encetou as negociações para que Portugal entrasse na então CEE (actual UE). Mas foram precisos esperar nove anos para que, em 12 de Junho de 1985, no Mosteiro dos Jerónimos fosse assinada a adesão do nosso país à comunidade europeia. Na mesma data, a Europa dos 10 deu lugar à Europa dos 12, com a entrada de Portugal e de Espanha.


Volvidos 20 anos, as assimetrias entre os dois países penínsulares são evidentes. Ambos aderiram à CEE como parentes pobres, actualmente os nossos vizinhos integram a UE como uma potência importante.




Onde falhámos?!

Euro 2004

EURO 2004

Foi há precisamente um ano que todos nos vestimos de vermelho e verde para apoiar a nossa selecção!


Foi necessário vir um seleccionador estrangeiro para afinar 10 milhões de pessoas num tom maior - qual maestro que rege uma orquestra.


Pena que os mesmos 10 milhões, concluída a fase final da prova, se tenham esquecido da "Força" (cantada por Nelly Furtado) e tenham baixado mais uma vez os braços, para voltarmos ao fado dos coitadinhos.

Vasco (1922 - 2005)

Vasco Gonçalves

Vasco Gonçalves, um militar de carreira nascido em 3 de Maio de 1922, surgiu no Movimento dos Capitães em Dezembro de 1973, numa reunião alargada da sua comissão coordenadora efectuada na Costa da Caparica.

Coronel de engenharia (muito tímido, segundo Marcelo Rebelo de Sousa), integrou a Comissão de Redacção do Programa do Movimento das Forças Armadas - MFA - passando a ser o elemento de ligação com Costa Gomes.

Este elemento da Comissão Coordenadora do MFA, foi, mais tarde, primeiro ministro de sucessivos governos provisórios (II, III, IV e V) entre 17-07-1974 e 12-09-1975; durante as legislaturas às quais presidiu, surgiram o Salário Mínimo da Função Pública e o 13.º mês para os pensionistas. De notar também o empenho que colocou nas nacionalizações/expropriações.


MFA - Cartaz de apoio a Vasco Gonçalves

Tido geralmente como pertencente ao grupo dos militares próximos do PCP, perdeu toda a sua influência na sequência dos acontecimentos de 25 de Novembro de 1975.

Faleceu ontem a 11 de Junho de 2005, aos 83 anos de idade! O General foi uma pessoa coerente, de muito fortes princípios, os quais sempre defendeu com honestidade e apego. Concordemos ou não com ele, foi muito honesto e muito sincero e era um homem de bem que se bateu por aquilo que acreditava

"Força, força companheiro Vasco..."

sábado, junho 04, 2005

"Ode à Liberdade"

"Quero-te, como quero ao ar e à luz
Porque não sou a ovelha do rebanho,
Nem vendi ao pastor a alma e a grei;
E onde não haja mais do que o redil,
És tu a minha pátria e a minha Lei.

(...)

Leva-me ao teu sopro, éter divino,
Porque me queima a sede das alturas
E o meu amor se oferece sem limite;
E és tu que abres as asas aos condores,
És tu que ergues os astros ao zénite.

Toma-me nas tuas mãos de sagitário,
Faze d mim o arco retesado
Pelo teu braço e a tua força inquieta,
Pois, quando o meu desejo atinge o alvo,
És tu o impulso que dispara a seta.

É lá, sempre mais longe, além do Oceano,
Nos limites do Mundo conhecido,
Em plena selva e onde há que abrir a senda,
Que eu quero devorar os frutos novos
E erguer à beira de água a minha tenda.

(...)

Gerou-te, lentamente, com revolta
E dor, a consciência dos escravos;
Renasce mais perfeita a cada idade;
E, sempre, com as dores cruéis do parto,
Dá-te de novo à luz a Humanidade.

Querem mãos assassinas sufocar-te
Nas entranhas maternas. Mas em vão.
Virás como a torrente desprendida,
Porque és o sopro e a lei da Criação
E não há força que detenha a Vida."

Jaime Cortesão